sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Carta do mês de outubro de 2013

Carta MCC Brasil – Outubro 2013 (170ª.)



“Depois disso, Jesus percorria cidades e povoados proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus.
 Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus:
Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens” (Lc 1, 1-3).

Muito queridos irmãos e irmãs, chamados que somos todos para a missão de anunciar o Reino de Deus:

À luz da fé, com a graça da ternura do Pai, a presença amorosa do Filho e a fortaleza sempre presente do Espírito Santo, chegamos à nossa centésima septuagésima Carta mensal para o Movimento de Cursilhos do Brasil e, por extensão, para os que benevolamente se interessam por estas reflexões brotadas da Palavra de Deus. Quando, em setembro de 1999, comecei a escrever as Cartas tinha por objetivo propor ao MCC do Brasil elementos que pudessem ajudar no aprofundamento da fé. Logo, porém, descobri que se não me ancorasse na Palavra, isto é, no próprio Jesus, eu estaria discursando em vão... Então, as Cartas passaram a ter um conteúdo bíblico, de interesse não apenas do MCC, mas também de muitos outros leitores e leitoras. Graças a Deus![1]

Graças à Providência divina, esta Carta lhes é enviada com a intenção de servir para algumas reflexões neste mês de outubro, tradicionalmente proclamado como o Mês das Missões. Assim, como de costume, tentaremos fazer com que essas reflexões brotem da Palavra de Deus, começando pelo testemunho do próprio Jesus que leva consigo os “doze e algumas mulheres” - ou seja, a sua primeira família missionaria - passando pela vocação missionária de cada um dos seus seguidores e pela característica fundamental da Igreja, que é, precisamente, ser evangelizadora.  

1.                  Jesus: o missionário do Pai. Lembra o evangelista Lucas que “Jesus percorria cidades e povoados proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus”. Para essa proclamação e para esse anúncio é que Jesus foi enviado como sendo a Palavra do Pai: “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai, como filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).  

2.                  Os primeiros chamados e enviados para a missão.  Tendo chamado pelo nome a cada um e a cada uma que ele desejava como seguidores e continuadores de sua missão, Jesus constitui com eles uma nova família: a família dos filhos e filhas de Deus, família essencialmente missionária. Como que para um “treinamento”, Jesus os leva consigo para “percorrer aldeias e povoados”. Aldeias e povoados que são hoje, como repete o Papa Francisco, as “periferias existenciais”. E lembra Paulo VI: “Se há homens que proclamam no mundo o Evangelho da salvação, fazem-no por ordem, em nome e com a graça de Cristo Salvador. 'E como podem pregar, se não forem enviados? escrevia aquele que foi, sem dúvida alguma, um dos maiores evangelizadores. Ninguém, pois, pode fazer isso se não for enviado.[2]

3.                  Todo seguidor de Jesus deve trazer em si o DNA dEle. O DNA é umcomposto orgânico que revela com segurança a ascendência de todos os seres vivos, particularmente a do ser humano. Na ascendência, ou seja no DNA de todo aquele que decidiu seguir radicalmente Jesus, dever-se-ia encontrar o DNA evangelizador.  É isto que, em outras palavras, diz o Papa Paulo VI: Finalmente, aquele que foi evangelizado, por sua vez, evangeliza. Está nisso o teste de verdade, a pedra-de-toque da evangelização: não se pode conceber uma pessoa que tenha acolhido a Palavra e se tenha entregado ao reino sem se tornar alguém que testemunha e, por seu turno, anuncia essa Palavra[3].
4.                  Evangelizar: essência da Comunidade eclesial. Ainda que muitos dos meus queridos leitores possam saber de cor o que diz o Papa Paulo VI naquele documento - talvez o mais importante do século passado sobre a Evangelização, a “Evangelii Nuntiandi” - penso valer a pena repeti-lo para que, neste mês das Missões, dediquemos um tempo significativo à sua reflexão, seja pessoal seja em comunidade (dias de estudo, retiros, sessões da Escola, etc.: A Igreja sabe-o bem, ela tem consciência viva de que a palavra do Salvador, 'Eu devo anunciar a Boa Nova do reino de Deus', se lhe aplica com toda a verdade. Assim, ela acrescenta de bom grado com São Paulo: 'Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho'. Foi com alegria e reconforto que nós ouvimos, no final da grande assembléia de outubro de 1974, estas luminosas palavras: 'Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja';tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição[4].

5.                  O clamor do Papa Francisco.  Desde o primeiro momento de sua eleição, o nosso já tão querido Papa Francisco vem insistindo na vocação missionária da Igreja utilizando insistentemente o verbo “sair!”. Permitam-me citar aqui uma pequena parte do discurso por ele dirigido aos participantes de um Encontro de Movimentos Eclesiais: “A Igreja deve sair de si mesma. Para onde? Para as periferias existenciais, sejam eles quais forem…, mas sair. Jesus diz-nos: «Ide pelo mundo inteiro! Ide! Pregai! Dai testemunho do Evangelho!» (cf. Mc 16, 15). Entretanto que acontece quando alguém sai de si mesmo? Pode suceder aquilo a que estão sujeitos quantos saem de casa e vão pela estrada: um acidente. Mas eu digo-vos: Prefiro mil vezes uma Igreja acidentada, caída num acidente, que uma Igreja doente por fechamento! Ide para fora, saí! Pensai também nisto que diz o Apocalipse (é uma coisa linda!): Jesus está à porta e chama, chama para entrar no nosso coração (cf. Ap 3, 20). Este é o sentido do Apocalipse. Mas fazei a vós mesmos esta pergunta: Quantas vezes Jesus está dentro e bate à porta para sair, ir para fora, mas não O deixamos sair, por causa das nossas seguranças, por estarmos muitas vezes fechados em estruturas caducas, que servem apenas para nos tornar escravos, e não filhos de Deus que são livres? Nesta «saída», é importante ir ao encontro de…; esta palavra, para mim, é muito importante: o encontro com os outros. Porquê? Porque a fé é um encontro com Jesus, e nós devemos fazer o mesmo que Jesus: encontrar os outros. Vivemos numa cultura do desencontro, uma cultura da fragmentação, uma cultura na qual o que não me serve deito fora, a cultura das escórias. A propósito, convido-vos a pensar – e é parte da crise – nos idosos, que são a sabedoria de um povo, nas crianças... a cultura das escórias. Nós, pelo contrário, devemos ir ao encontro e devemos criar, com a nossa fé, uma «cultura do encontro», uma cultura da amizade, uma cultura onde encontramos irmãos, onde podemos conversar mesmo com aqueles que pensam diversamente de nós, mesmo com quantos possuem outra crença, que não têm a mesma fé. Todos têm algo em comum conosco: são imagens de Deus, são filhos de Deus. Ir ao encontro de todos, sem negociar a nossa filiação eclesial”.[5]
Pensando ter contribuído ainda que de maneira tão limitada para o amadurecimento de nossa vocação missionária e que a todos nós nos leve a um compromisso efetivo com o chamado do Senhor para trabalhar na messe, invoco a Maria, primeira discípula missionaria, para que sempre venha caminhar conosco, sobretudo neste Mês das Missões.
Com carinho, meu abraço  fraterno,
                                                                                                                          Pe. José Gilberto BERALDO
                                                                                                                                   Equipe Sacerdotal do GEN

Carta do mês de setembro de 2013

Carta MCC Brasil – Setembro 2013 (169ª.)


Carta MCC Brasil – Setembro 2013 (169ª.)

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilhava nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la... Esta era a luz verdadeira que, vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram” (Jo 1, 1-5; 9-11).

Muito amados irmãos e irmãs unidos na mesma fé na Palavra do Pai, o Senhor Jesus:

Impossível, neste mês de setembro, mês da Bíblia ou mês da Palavra de Deus, não trazer à nossa reflexão o início do Prólogo do Evangelho de São João que, na Exortação Apostólica Verbum Domini (VD), Bento XVI afirma “tratar-se de um texto admirável, que dá uma síntese de toda a fé cristã”.[1] Apesar de minhas naturais limitações, é neste luminoso pano de fundo, que tentarei oferecer aos queridos leitores alguns pontos que, eventualmente, poderão ajudá-los na caminhada deste mês ouvindo, dia e noite, em todos os momentos, o eco da Palavra e dela – pois é ela o próprio Jesus – seguindo os passos.

1.                  Jesus, Palavra do Pai tornada carne. Nossa tradição religiosa cultural, familiar ou pela instrução recebida no catecismo, via de regra, apresentam-nos a pessoa de Jesus como o Filho de Deus, o Messias, o Salvador, o Mestre, etc. Evidentemente cremos nestas afirmações dogmáticas que sustentam nossa fé cristã. Entretanto, progredindo no itinerário dessa mesma fé, passamos dessas um tanto frias considerações doutrinais e teológicas sobre Jesus, para a terna intimidade do diálogo pessoal, por ser Jesus a Palavra do Pai que conosco se comunica permitindo-nos responder-lhe dentro dos limites de nossas limitações humanas. Na VD lemos que “A tradição patrística e medieval, contemplando esta Cristologia da Palavra, utilizou uma sugestiva expressão: O Verbo abreviou-Se. Na sua tradução grega do Antigo Testamento, os Padres da Igreja encontravam uma frase do profeta Isaías – que o próprio São Paulo cita – para mostrar como os caminhos novos de Deus estivessem já preanunciados no Antigo Testamento. Eis a frase: “O Senhor compendiou a sua Palavra, abreviou-a” (Is 10, 23; Rm 9, 28). (…) O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré[2].

Proposta: durante este mês repensar a prática de nossa fé em Jesus, tentando superar uma visão meramente doutrinário-dogmática, para chegar, pelo diálogo, à intimidade com Jesus-Palavra do Pai. Lembremo-nos sempre de que“a Palavra veio para o que era seu...”.

2.                  Jesus Cristo, Palavra do Pai: “Caminho, Verdade e Vida”. No Evangelho de João, para que melhor compreendamos a Palavra que é Ele mesmo, respondendo à pergunta de Tomé, assim se explica Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Há poucos dias, deixando aos frequentadores da missa da manhã a pergunta: “Quem é Jesus para você”, logo à noite recebi sugestivas e maravilhosas respostas. Alguns exemplos: É o maior amor da minha vida;Jesus é tudo para mim, principalmente amor e misericórdiaEle é meu grande mestre, a quem eu sigo e busco como exemplo em tudo que faço;Jesus melhor amigo e companheiro, está sempre comigoMeu guia no agir, no falar, no andar; Minha grande inspiraçãoJesus é Amor incondicional, amigo de todas as horasJesus é Aquele que chama....que acolhe...que escolhe. Jesus é Aquele que na Eucaristia se entrega a nós(presente), em Corpo e Sangue Verdadeiro, diariamente, renovando e cumprindo sua promessa de nunca nos abandonarJesus é o outro: além de estar no outro, Ele é o próprio outro: tem fome, tem sede, precisa de roupas, de abrigo, de atenção, de um abraço. Olhe com amor bem no centro dos olhos das pessoas, e encontrará Jesus. Hoje, encontrei vários 'Jesuses': amigos de trabalho, pessoas na rua, conhecidos e desconhecidosJesus para mim, é simplesmente tudo em minha vida. Não sei o que seria de mim, se não fosse Jesus para me guiar, proteger, iluminar, corrigir e muitas outras coisas. Tenho a mais absoluta certezade que nada nesta vida irá me afastar de Jesus, pois Ele é a minha paz, alegria e bem estar. Com Jesus, creio que não existe barreira alguma nesta vida, pois tudo é possível ao que crê em Jesus”.

Proposta: sugiro fraternalmente que durante este mês da Palavra de Deus, procuremos responder na sua vivência diária, “quem é Jesus-Palavra” para você.

3.                  Todos somos aquilo que ouvimos. Na moderna cultura do consumismo exagerado e do relativismo da verdade, estamos todos sujeitos às provocações da mídia publicitária, correndo o risco de nos deixar moldar por seus apelos e por filosofias ou ideologias que, normalmente, nos transformam em meros objetos desse tipo de imposição e não em protagonistas de nosso próprio destino. Caso seja verdade tal afirmação, pergunta-se: aos olhos da fé, o que somos ou o que deveríamos ser? Penso em quatro atitudes básicas:
a)                 acolher e encarnar a Palavra: discípulos. Assim como o Verbo do Pai, pela ação do Espírito Santo, faz-se carne em Jesus, cada um de nós que nos dizemos seus seguidores, somos chamados a assumir o diálogo iniciado por Ele, acolhendo e encarnando em nós mesmos a Palavra até “chegarmos, todos juntos, à unidade na fé e no conhecimento do Filho de Deus, ao estado de adultos, à estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4,13). Sendo, assim, fiéis discípulos da Palavra, afirma São Paulo, “não seremos mais como crianças, entregues ao sabor das ondas e levados por todo vento de doutrina, ludibriados pelos homens e por eles, com astúcia, induzidos ao erro” (Ef 4,14).
b)                 orar a Palavra: um dos subtítulos da VD refere-se ao diálogo com Deus através das suas palavras: A Palavra divina introduz cada um de nós no diálogo com o Senhor: o Deus que fala, ensina-nos como podemos falar com Ele. Espontaneamente o pensamento detém-se no Livro dos Salmos, onde Ele nos fornece as palavras com que podemos dirigir-nos a Ele, levar a nossa vida para o colóquio com Ele, transformando assim a própria vida num movimento para Deus. De fato, nos Salmos, encontramos articulada toda a gama de sentimentos que o homem pode ter na sua própria existência e que são sapientemente colocados diante de Deus; alegria e sofrimento, angústia e esperança, medo e perplexidade encontram lá a sua expressão[3]Leia-se, ainda, na mesma VD o rico parágrafo 86 sobre a “lectio divina” ou “leitura orante da Bíblia”.
c)                  Proclamar a Palavra: missionários do Reino. Missão fundamental de toda a Igreja é, por consequência, a missão de cada seguidor da Palavra-Jesus. O discípulo é enviado para a missão de anunciar o Reino de Deus, ou seja, proclamar que a Palavra já está no meio de nós (cf. Mt 10,7). Sabemos que “a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6,45). Estando o coração do autêntico discípulo, isto é, toda a sua vida encharcada pela Palavra, será ele, inevitavelmente, ardoroso missionário pelo testemunho de vida e pela palavra.

4. Nosso modelo de vivência da Palavra: Maria. Tenhamos nossa Mãe Maria por modelo. Ela a) ouve a Palavra: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo” (cf. Lc1,28); b) acolhe a Palavra: “Maria disse: eis aqui a serva do Senhor” (cf. Lc 1,38); c) encarna a Palavra: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (cf. Lc 1, 38). Sobre esse nosso modelo de vivência da Palavra sugiro uma leitura atenta do último parágrafo da VD sobre Maria: “Mãe do Verbo e Mãe da alegria”.[4]

A todos envio meu carinhoso abraço envolvido pela Palavra de Deus, em Jesus e no Espírito Santo,

Pe. José Gilberto BERALDO
Equipe Sacerdotal Grupo Executivo Nacional
MCC Brasil

Carta do mês de agosto de 2013


Carta MCC Brasil – Agosto 2013 (168ª.)


Carta MCC Brasil – Agosto 2013 (168ª.)

“Ele chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois
e deu-lhes poder sobre os espíritos impuros” (Mc 6,7).
“O Senhor escolheu outros setenta e dois
 e enviou-os, dois a dois, à sua frente
 a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir’”. (Lc 10,1).

Muito amados irmãos e irmãs, benevolentes leitores de nossas reflexões mensais:

Como fazemos todos os meses, também neste mês de agosto vamos beber, na fonte cristalina da Palavra de Deus acima, a inspiração para nossas reflexões e o estímulo e força para pô-las em prática. Dois momentos se destacam nesta Carta: o primeiro lembrando algumas palavras do Papa Francisco na Missa de Envio no último dia da Jornada Mundial da Juventude, e o segundo tratando de fazer presente a característica do mês de agosto na Igreja do Brasil, como sendo o Mês das Vocações.

1.                A presença do Papa Francisco na JMJ ainda ressoa.  Sem voltar a todos os pronunciamentos do Papa durante sua permanência de uma semana para a Jornada Mundial da Juventude (o que, aliás, seria impossível e, até, inoportuno, fazer aqui), tendo como pano de fundo seu próprio testemunho de vida abundantemente demonstrado nesses dias, proponho à nossa reflexão três mensagens principais, definidas por ele como 'três palavras', durante a homilias da última missa celebrada na JMJ na presença de mais de três milhões e quinhentas mil pessoas, chamada de 'Missa de Envio'.

a)                 Compartilhar a fé. A primeira delas falou de partilha: “A experiência desse encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história'. E continuou enfatizando ainda mais: 'Saiam às ruas, como fez Jesus'. E foi incisivo até o extremo: 'Se a Igreja não sair às ruas, ela se converte numa ONG'!
b)                 Combater o medo de evangelizar. A segunda mencionou o medo de evangelizar, que deve ser combatido, de acordo com o papa, em conjunto.Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos', recomendou, ao mesmo tempo em que convocou a Igreja a apoiar os jovens.
c)                  “Servir” como Jesus serviu. A última etapa da mensagem foi dedicada ao 'servir'. Francisco pediu aos jovens que a vida de cada um 'se identifique com a vida de Jesus', que seria uma 'vida para os demais'. E, como já é quase uma constante em seus pronunciamentos, o Papa Francisco insistiu na “saída da Igreja para as ruas”, para as “periferias não só geográficas, mas existenciais”, isto é, para os inúmeros ambientes dos quais todos participamos.
Uma pergunta. Não podemos concluir essas considerações sem que fique, tanto para mim mesmo como para cada um dos leitores e leitoras, para os nossos Movimentos e Comunidades – e aqui faço especial referência ao Movimento de Cursilhos – uma pergunta clara e direta: Não seria este o momento mais do que oportuno para sair de nossos grupinhos mais ou menos fechados, ou da intimidade de nossas paróquias, e irmos “para as ruas” – como proclama o Papa –, para as “pequenas comunidades” tanto geográficas como “existenciais”? Por que, ao final das reuniões de nossos grupos, núcleos ou comunidades, após a tradicional indagação “o que mais me fez crescer hoje”, não acrescentamos outra pergunta ainda mais comprometedora: “a partir das minhas reflexões sobre a Bíblia, como testemunho de vida, fiz crescer as ‘periferias existenciais’ que me cercam e com as quais estou envolvido?”
2.                Agosto, o mês das vocações. Cada domingo do mês e a semana subsequente referem-se a um carisma próprio do chamamento: 1ª semana – Ministérios ordenados (bispos, presbíteros e diáconos); 2ª semana – Família (particularmente os pais); 3ª semana – Consagrados e Consagradas; 4ª semana – Leigos e leigas (com seus serviços e ministérios).  Com essa disposição, fica muito clara a vocação laical que abrange não somente a participação nos serviços paroquiais como, sobretudo, o envolvimento prioritário do leigo e da leiga. Nesse contexto, não só é oportuno como absolutamente necessário lembrar algumas orientações do Magistério da Igreja que, parece, até agora não foram devidamente assimiladas e postas em prática, seja pelos que deveriam ser os primeiros interessados, os próprios leigos, seja pelos muitos membros da hierarquia (a começar por muitos senhores párocos e outros sacerdotes) que vêm nos leigos apenas prestadores de serviço em suas paróquias, autêntica mão de obra gratuita! Sem falar de um inteiro Documento dedicado à “Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo” de João Paulo II, cito dois deles que deixo à reflexão dos meus leitoresOs leigos, a quem a sua vocação específica coloca no meio do mundo e à frente de tarefas as mais variadas na ordem temporal, devem também eles, através disso mesmo, atuar uma singular forma de evangelização. A sua primeira e imediata tarefa não é a instituição e o desenvolvimento da comunidade eclesial, esse é o papel específico dos Pastores, mas sim, o pôr em prática todas as possibilidades cristãs e evangélicas escondidas, mas já presentes e operantes, nas coisas do mundo. O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos 'mass media' e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento. Quanto mais leigos houver impregnados do Evangelho, responsáveis em relação a tais realidades e comprometidos claramente nas mesmas, competentes para as promover e conscientes de que é necessário fazer desabrochar a sua capacidade cristã muitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades, sem nada perder ou sacrificar do próprio coeficiente humano, mas patenteando uma dimensão transcendente para o além, não raro desconhecida, se virão a encontrar ao serviço da edificação do reino de Deus e, por conseguinte, da salvação em Jesus Cristo” (nº 70 da Exortação Apostólica A Evangelização no Mundo Contemporâneo de Paulo VI). Também o Documento de Aparecida refere-se explicitamente aos leigos e à sua vocação e missão: “Os fiéis leigos são ‘os cristãos que estão incorporados a Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Eles realizam, segundo sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo’. São “homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja” (DAp 209) Mais: “Sua missão própria e específica se realiza no mundo, de tal modo que, com seu testemunho e sua atividade, eles contribuam para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho. Além disso, eles têm o dever de fazer crível a fé que professam, mostrando autenticidade e coerência em sua conduta (id 210).
Concluo com um abraço fraterno a todos os meus leitores e leitoras, especialmente aos leigos e leigas, desejando que, sobretudo neste mês de agosto, quando, ao celebrarmos a Assunção de Maria, dela deveremos lembrar-nos como a primeira leiga discípula missionária de Jesus, a ser imitada por todos os seus filhos.

            Pe. José Gilberto BERALDO
            Equipe Sacerdotal
 Grupo Executivo Nacional

O SANTO ROSÁRIO - O método mais eficaz para a salvação das almas