Carta MCC Brasil – Outubro 2013 (170ª.)
“Depois disso, Jesus percorria cidades e povoados proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus.
Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus:
Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens” (Lc 1, 1-3).
Muito queridos irmãos e irmãs, chamados que somos todos para a missão de anunciar o Reino de Deus:
À luz da fé, com a graça da ternura do Pai, a presença amorosa do Filho e a fortaleza sempre presente do Espírito Santo, chegamos à nossa centésima septuagésima Carta mensal para o Movimento de Cursilhos do Brasil e, por extensão, para os que benevolamente se interessam por estas reflexões brotadas da Palavra de Deus. Quando, em setembro de 1999, comecei a escrever as Cartas tinha por objetivo propor ao MCC do Brasil elementos que pudessem ajudar no aprofundamento da fé. Logo, porém, descobri que se não me ancorasse na Palavra, isto é, no próprio Jesus, eu estaria discursando em vão... Então, as Cartas passaram a ter um conteúdo bíblico, de interesse não apenas do MCC, mas também de muitos outros leitores e leitoras. Graças a Deus![1]
Graças à Providência divina, esta Carta lhes é enviada com a intenção de servir para algumas reflexões neste mês de outubro, tradicionalmente proclamado como o Mês das Missões. Assim, como de costume, tentaremos fazer com que essas reflexões brotem da Palavra de Deus, começando pelo testemunho do próprio Jesus que leva consigo os “doze e algumas mulheres” - ou seja, a sua primeira família missionaria - passando pela vocação missionária de cada um dos seus seguidores e pela característica fundamental da Igreja, que é, precisamente, ser evangelizadora.
1. Jesus: o missionário do Pai. Lembra o evangelista Lucas que “Jesus percorria cidades e povoados proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus”. Para essa proclamação e para esse anúncio é que Jesus foi enviado como sendo a Palavra do Pai: “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai, como filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).
2. Os primeiros chamados e enviados para a missão. Tendo chamado pelo nome a cada um e a cada uma que ele desejava como seguidores e continuadores de sua missão, Jesus constitui com eles uma nova família: a família dos filhos e filhas de Deus, família essencialmente missionária. Como que para um “treinamento”, Jesus os leva consigo para “percorrer aldeias e povoados”. Aldeias e povoados que são hoje, como repete o Papa Francisco, as “periferias existenciais”. E lembra Paulo VI: “Se há homens que proclamam no mundo o Evangelho da salvação, fazem-no por ordem, em nome e com a graça de Cristo Salvador. 'E como podem pregar, se não forem enviados? escrevia aquele que foi, sem dúvida alguma, um dos maiores evangelizadores. Ninguém, pois, pode fazer isso se não for enviado”.[2]
3. Todo seguidor de Jesus deve trazer em si o DNA dEle. O DNA é umcomposto orgânico que revela com segurança a ascendência de todos os seres vivos, particularmente a do ser humano. Na ascendência, ou seja no DNA de todo aquele que decidiu seguir radicalmente Jesus, dever-se-ia encontrar o DNA evangelizador. É isto que, em outras palavras, diz o Papa Paulo VI: “Finalmente, aquele que foi evangelizado, por sua vez, evangeliza. Está nisso o teste de verdade, a pedra-de-toque da evangelização: não se pode conceber uma pessoa que tenha acolhido a Palavra e se tenha entregado ao reino sem se tornar alguém que testemunha e, por seu turno, anuncia essa Palavra”[3].
4. Evangelizar: essência da Comunidade eclesial. Ainda que muitos dos meus queridos leitores possam saber de cor o que diz o Papa Paulo VI naquele documento - talvez o mais importante do século passado sobre a Evangelização, a “Evangelii Nuntiandi” - penso valer a pena repeti-lo para que, neste mês das Missões, dediquemos um tempo significativo à sua reflexão, seja pessoal seja em comunidade (dias de estudo, retiros, sessões da Escola, etc.: “A Igreja sabe-o bem, ela tem consciência viva de que a palavra do Salvador, 'Eu devo anunciar a Boa Nova do reino de Deus', se lhe aplica com toda a verdade. Assim, ela acrescenta de bom grado com São Paulo: 'Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho'. Foi com alegria e reconforto que nós ouvimos, no final da grande assembléia de outubro de 1974, estas luminosas palavras: 'Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja';tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição”[4].
5. O clamor do Papa Francisco. Desde o primeiro momento de sua eleição, o nosso já tão querido Papa Francisco vem insistindo na vocação missionária da Igreja utilizando insistentemente o verbo “sair!”. Permitam-me citar aqui uma pequena parte do discurso por ele dirigido aos participantes de um Encontro de Movimentos Eclesiais: “A Igreja deve sair de si mesma. Para onde? Para as periferias existenciais, sejam eles quais forem…, mas sair. Jesus diz-nos: «Ide pelo mundo inteiro! Ide! Pregai! Dai testemunho do Evangelho!» (cf. Mc 16, 15). Entretanto que acontece quando alguém sai de si mesmo? Pode suceder aquilo a que estão sujeitos quantos saem de casa e vão pela estrada: um acidente. Mas eu digo-vos: Prefiro mil vezes uma Igreja acidentada, caída num acidente, que uma Igreja doente por fechamento! Ide para fora, saí! Pensai também nisto que diz o Apocalipse (é uma coisa linda!): Jesus está à porta e chama, chama para entrar no nosso coração (cf. Ap 3, 20). Este é o sentido do Apocalipse. Mas fazei a vós mesmos esta pergunta: Quantas vezes Jesus está dentro e bate à porta para sair, ir para fora, mas não O deixamos sair, por causa das nossas seguranças, por estarmos muitas vezes fechados em estruturas caducas, que servem apenas para nos tornar escravos, e não filhos de Deus que são livres? Nesta «saída», é importante ir ao encontro de…; esta palavra, para mim, é muito importante: o encontro com os outros. Porquê? Porque a fé é um encontro com Jesus, e nós devemos fazer o mesmo que Jesus: encontrar os outros. Vivemos numa cultura do desencontro, uma cultura da fragmentação, uma cultura na qual o que não me serve deito fora, a cultura das escórias. A propósito, convido-vos a pensar – e é parte da crise – nos idosos, que são a sabedoria de um povo, nas crianças... a cultura das escórias. Nós, pelo contrário, devemos ir ao encontro e devemos criar, com a nossa fé, uma «cultura do encontro», uma cultura da amizade, uma cultura onde encontramos irmãos, onde podemos conversar mesmo com aqueles que pensam diversamente de nós, mesmo com quantos possuem outra crença, que não têm a mesma fé. Todos têm algo em comum conosco: são imagens de Deus, são filhos de Deus. Ir ao encontro de todos, sem negociar a nossa filiação eclesial”.[5]
Pensando ter contribuído ainda que de maneira tão limitada para o amadurecimento de nossa vocação missionária e que a todos nós nos leve a um compromisso efetivo com o chamado do Senhor para trabalhar na messe, invoco a Maria, primeira discípula missionaria, para que sempre venha caminhar conosco, sobretudo neste Mês das Missões.
Com carinho, meu abraço fraterno,
Pe. José Gilberto BERALDO
Equipe Sacerdotal do GEN
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sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Carta do mês de outubro de 2013
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