CARTA MCC BRASIL - FEV 2013 (162ª.)
“Sendo seus colaboradores, exortamos-vos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz:
‘No momento favorável, eu te ouvi, no dia da salvação eu te socorri’.
É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,1-2).
Meus muito amados leitores e leitoras, peregrinos companheiros no “já agora” rumo ao “ainda não” que é o Reino definitivo:
1. Uma nova etapa na vida do seguidor de Jesus.
Eis que neste nosso peregrinar, reiniciamos uma nova etapa no
seguimento das pegadas de Jesus. Esta nova etapa chama-se tempo da
Quaresma. Depois de tê-lo recebido como a “Palavra que estava junto de Deus, e a Palavra era Deus” (cf.Jo 1,1) no Natal, feito à nossa carne semelhante; depois de, na Epifania, juntamente com os Magos, tê-lo contemplado como a “vida e a luz dos homens”
(cf.Jo 1,4), também como eles, “retornamos à nossa terra” (cf. Mt 2,12)
, isto é, voltamos ao nosso dia-a-dia, queira Deus que “passando por
outro caminho”, ou seja, o caminho da perseverante conversão, novamente
ao encontro com Jesus. Caminho que jamais deveria ser repetido porque há
sempre um encanto novo, um novo fascínio, um novo entusiasmo em
deixar-nos encontrar por Ele, em “não abandonar o primeiro amor, convertendo-nos e voltando à prática inicial” (cf. Ap 2, 4-5).
2. Um insistente convite para a conversão.
Por isso, de novo somos motivados e convidados pelo tempo quaresmal a
iniciar-se, neste ano, no próximo dia 13, a rever os nossos passos: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação”,
adverte-nos o Apóstolo Paulo. Com certeza, ano após ano, temos ouvido
esta chamada. Uma chamada à conversão. É, até, bem possível que à força
de repeti-la, a palavra “conversão” tenha perdido toda a sua força
transformadora ou o seu alcance mais profundo para a nossa vida cristã.
Ao comentar o “sinal” operado por Jesus ao transformar a água em vinho,
nas bodas de Caná (cf. Jo, 2,1-12), assim se expressa um teólogo
contemporâneo a respeito da conversão: “O chamamento à conversão quase
sempre nos desagrada e nos cansa. Tornasse-nos tão antipático que a
própria palavra «conversão» foi desaparecendo do nosso vocabulário como
algo que é melhor esquecer. No entanto, é difícil que uma corrente nova
de vida e de alegria refresque a nossa existência se não começarmos por
transformar a nossa vida. A conversão é quase sempre o ponto de partida
necessário para começar uma vida mais intensa, mais profunda e gozosa.
Segundo Jesus, é um equívoco pôr um remendo novo num pano velho ou
colocar vinho novo em barris velhos. É um erro pôr pequenos remendos
numa existência envelhecida e deteriorada. Temos de renovar a nossa vida radicalmente”.[1] E prossegue com um “incômodo” questionamento: “É
a tragédia do nosso cristianismo. A nossa vida configura-se segundo os
critérios e esquemas de uma sociedade que não está inspirada pelo
evangelho. Pretendemos seguir Jesus sem conversão. O evangelho não
consegue introduzir uma mudança no nosso estilo de viver. Dir-se-ia que a
fé não tem força para transformar radicalmente nossa vida. Acreditamos
no amor, na conversão, no perdão, na solidariedade, no seguimento de
Jesus, mas vivemos instalados no consumismo, na busca egoísta do
bem-estar, na indiferença perante o sofrimento alheio”.
Pergunta:,
meu querido leitor, minha querida leitora, é assim mesmo que está
transcorrendo a sua vida de seguidor ou seguidora de Jesus? É este o seu
conceito de “conversão”? Ou este é o seu modelo de convertido (a)?
3. Alguns passos “quaresmais” para a conversão.
Diríamos que são sempre os mesmos e repetitivos, mas que são sempre o
itinerário mais adequado para uma vivência do tempo da Quaresma. Três
são estes passos:
3.1. Oração.
É comum ouvir-se dizer que “a vida do cristão já é uma oração” ou que
“devemos fazer da vida uma oração”. Sem dúvida, esta deveria ser a
realidade e a concretização de nossa relação com o nosso Pai que está
nos céus e com todos os nossos semelhantes. Entretanto, nem sempre é
assim, pois, em muitos casos trata-se de uma espécie de fuga do tempo
que deveria ser exclusivamente consagrado à oração. E nem a vida é uma
oração e nem a oração faz parte da vida. O exemplo de Jesus é claro e
motivador para estes momentos dedicados à oração. Os Evangelhos narram,
com destaque, a frequência com que, fugindo do ruído ou da aclamação das
multidões e, até, da convivência com os discípulos, Ele passava as
noites em oração. Subia às montanhas para orar (cf. Mt 14,23; Mc 6,46;
Lc 9,28; Jo 6,15), para dialogar com o Pai e para estar a sós na
intimidade com Ele.
Pergunta:
sobretudo neste tempo de Quaresma, haverá um tempo salvado do
corre-corre do seu dia, para dedicar-se ao diálogo com o Pai que está
nos céus? E não apenas para pedir, mas para agradecer e louvar? Ou, quem
sabe, para silenciar diante dEle e na intimidade dEle, silenciar o seu
coração e as vozes que o distraem de ouvi-Lo? Em fim, um tempo para a
contemplação?
3.2. Jejum.
Para além dos tradicionais dias de jejum e abstinência de carne
prescritos pela Igreja, é fundamental para os seguidores de Jesus que
sua observância seja concretizada na resistência aos fortes apelos de
uma sociedade altamente consumista, relativista e materialista. Quantas
vezes, atraídos pelas vozes dos modernos meios de comunicação,
deixamo-nos seduzir e intoxicar pelo acúmulo de tantas coisas supérfluas
e descartáveis ou pelo esbanjamento que, além de tudo, prejudicam a
convivência fraterna, o exercício da solidariedade e a prática da
justiça!
Pergunta:
nesta Quaresma, qual é sua disposição e disponibilidade para a renúncia
a tantas coisas inúteis e prejudiciais, não só para o seu crescimento
na vida cristã mas, até, para a sua própria saúde física?
3.3. Esmola.
Sabemos todos que o sentido de “esmola” ultrapassa o mero donativo de
algumas moedas ou de uma peça de roupa velha que já está para ser jogada
no lixo. Esmola é, antes de tudo, partilha, amor mútuo, auxílio aos que
sofrem, luta pela dignidade da pessoa. Esmola é solidarizar-se (do
latim “solidum” = fazer-se um com o outro); compadecer-se (sofrer com o
próximo que de nós necessita) e identificar-se com o “mandamento novo”: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34a). E amar sem medida, até dar a vida: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34b).
Pergunta: neste tempo quaresmal, qual serão os gestos de “esmola” que você se dispõe a fazer?
Campanha da Fraternidade:
nós, católicos brasileiros participamos anualmente, na Quaresma, da
Campanha da Fraternidade, cujos lemas e temas, sempre muito oportunos,
contribuem, para aprofundar nossas reflexões e ajudar nossa tomada de
posição frente a situações e problemas que desafiam nossa fé e nos
ajudam a construir uma sociedade sempre mais justa e fraterna. Neste
ano, devido à celebração no mês de julho, da Jornada Mundial da
Juventude no Rio de Janeiro e com a presença do Papa Bento XVI, a CF tem
por Tema: FRATERNIDADE E JUVENTUDE e o Lema: “EIS-ME AQUI. ENVIA-ME”.
Com esta lembrança, queremos incentivar os caros irmãos e irmãs a que
participem ativamente da CF em todas as nossas paróquias, movimentos e
associações. Assim, nas reflexões desta Carta, cremos desnecessário
tecer comentários a respeito.
Desejando a todos um santo tempo quaresmal, vivido com as esperanças de uma alegre celebração pascal, deixo meu abraço fraterno,
Pe.José Gilberto BERALDO
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