sábado, 8 de junho de 2013

Carta Pe. Beraldo mês de junho de 2013


Carta MCC Brasil – Junho 2013 (166ª.)
“Depois de tudo isso,
derramarei o meu espírito sobre todos os viventes.
E, então, todos os filhos e filhas falarão como profetas...!” (Joel 3, 1ab).
“Vós todos podeis profetizar...” (I Cor 14,31).

Amados irmãos e irmãs, chamados que fomos para sermos e atuarmos como profetas nestes novos tempos de Igreja, a paz e o amor de Jesus estejam com todos vocês!

Para esta nossa Carta de junho, duas propostas nasceram na minha mente e amadureceram longamente no meu coração. A primeira é uma reflexão sobre a profecia na vida dos seguidores de Jesus, motivada pela celebração, neste mês, de três grandes profetas: João Batista, cujo nascimento se comemora no dia 24 e os Apóstolos Pedro e Paulo no dia 30. A segunda – como não poderia deixar de ser -, é uma constatação motivada pelas atuais providenciais circunstâncias históricas, uma nova primavera que vive a nossa Igreja Católica.

1. Profecia e Profeta: anúncio, denúncia e os profetas de ontem e de hoje. Não é muito clara a origem do termo “profecia”. Em todo o caso, sua conotação é a de “oráculo”, anúncio ou, também, de advertência ou denúncia. O profeta usa ora palavras de carinho e ternura, de promessas e de acolhida para os que observam os mandamentos e normas divinas e andam pelos bons caminhos, ora emprega palavras duras de ameaças e castigos terríveis para os que enveredam pelos desvios e descaminhos contrários aos projetos divinos. Quanto à história da nossa salvação, é bastante percorrer alguns dos 18 livros proféticos do Antigo Testamento para que nos demos conta desse processo, digamos, pedagógico-educativo do povo eleito. O profeta, aquele que vive intimidade com Deus, é o encarregado por Ele para anunciar ao povo, ou o perdão e o abraço divinos, ou os castigos merecidos pelos que se afastam das leis do Senhor. Isto está em conformidade com o que se lê no Profeta Joel, citado acima. Por isso, é provável que o nome “profeta”, como é empregado na Bíblia, signifique aquele que fala como acreditado mensageiro do Altíssimo. Deve-se observar que nos termos “profecia” ou “profeta” não há nada que implique previsão de acontecimentos. Pode um profeta predizer, ou não, o futuro segundo a mensagem que Deus lhe der.
Mas poderia alguém perguntar – porque esta introdução? Justamente para lembrar o último dos profetas do AT, João Batista e os dois primeiros, Pedro e Paulo, sem falar no profeta dos profetas, Jesus. E, é claro, para voltar a chamar nossa atenção de discípulos missionários, profetas que deveríamos ser de nossos tempos.
a) João Batista, o último dos profetas do AT. “Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista” (Mt 11,11). João foi o profeta corajoso, destemido que, de peito aberto, usa palavras duras de denúncia e de ameaças de castigos às “víboras” – fariseus e saduceus: “Víboras que sois, quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar? Produzi fruto que mostre vossa conversão” ... O machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada ao fogo” (Mt 3, 7b; 8;10). Mas foi, sobretudo, o profeta do anúncio da conversão, da preparação, da chegada e da presença de Jesus: “Convertei-vos, pois o Reino de Céus está próximo. “É dele que falou o profeta Isaías: ‘Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para ele’” (cf. Mt 3, 1-17). E vem agora o principal na vida de João Batista: ao avistar Jesus, num alegre e indizível ímpeto profético, manifestando a razão de ser de sua missão, exclama: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. É dele que eu falei: ‘Depois de min vem um homem que passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia’” (Jo 1,29-30). 
Para sua reflexão: a você, batizado, seguidor de Jesus, membro de comunidades e de movimentos eclesiais (do Movimento de Cursilhos, por exemplo), pergunto: até onde vai sua consciência de ser profeta de Jesus? Mais: até onde chega sua coragem para – como João Batista – denunciar a hipocrisia, o erro, a maldade e, sobretudo, anunciar que o “Reino já está no meio de nós?”, isto é, anunciar que Jesus está vivo e presente na nossa cultura, na nossa sociedade que anda tão distante Dele?
b) Os santos Apóstolos Pedro e Paulo, primeiros profetas do NT.  Primícias da Igreja pensada pelo Mestre e iniciada com a primeira comunidade de homens e mulheres reunida ao seu redor, são eles também os primeiros profetas do NT. Firmados, agora, no fato da ressurreição de Jesus, assumem,  corajosos, a missão de sair pelo mundo anunciando a Boa Nova: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura” (Mt 16,15). Eis que Pedro, inflamado pelo Espírito Santo, superando o medo (cf.Jo 20,19) e enfrentando “partas, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia... (cf At 2,9-11), ao mesmo tempo que anuncia a pessoa de Jesus, denuncia aqueles que mataram o mesmo Jesus: “Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas  mãos dos ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa cruz” (At 2,23). E o que dizer do espírito profético do convertido, o judeu Saulo, depois Paulo? Em inúmeras ocasiões, em incontáveis escritos e conteúdos de suas cartas, deixa muito claras as corajosas denúncias contra o mau procedimento de muitos que, pelo seu próprio ministério, haviam abraçado a fé cristã.
Para sua reflexão: vivemos uma realidade que a todos nós, na maioria das vezes, nos impede de sermos os profetas que deveríamos ser e que, se na vida de quase todos os profetas e nos primórdios da Igreja era comum, nos dias de hoje, na atual cultura do relativismo e da pressão social alimenta, até, uma certa vergonha nos cristãos. Trata-se do medo. Medo de anunciar; mais, medo de denunciar; medo de atitudes e gestos proféticos.... enfim, medo de se agir como discípulo missionário de Jesus! Você também anda pressionado por este medo? Esqueceu-se, meu caro profeta, minha querida profetiza, que foi Ele que disse: “Não tenham medo?” E, então?

2. Uma “nova primavera na Igreja Católica”. Somos cristãos católicos privilegiados. Tenho certeza de que todos temos consciência de estar vivendo novos tempos, novos desafios e novas perspectivas para a Igreja Católica. Fala-se, até, numa nova primavera da Igreja. Como já o fiz na Carta do mês passado, refiro-me, à eleição do Bispo de Roma (“o primeiro entre iguais”), Francisco. Seus gestos, seus testemunhos pessoais estão a nos indicar claramente uma nova postura para todos os católicos, para toda a Igreja. Não basta dizer que a Cúria romana deverá ser reformada ou que este é o Papa de que precisamos, etc. É urgentemente necessário que seu exemplo e testemunho atinjam a mentalidade e a vida de toda a hierarquia da Igreja, bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas  e de todos os católicos. Do contrário, os exemplos de Francisco, cairão no vazio e, como diz no título de um maravilhoso e profético artigo, um dos mais conhecidos teólogos contemporâneos, Hans Küng, companheiro que foi de magistério do emérito Papa Bento XVI: Não deixem a Primavera virar Inverno”. Primavera na Igreja é superar uma “Pastoral de mera conservação e sair para uma pastoral decididamente missionária” (Cf Doc.370). SAIR é um dos verbos mais usado pelo Papa Francisco. Igreja, comunidades, movimentos eclesiais devemos todos SAIR... Por oportuno, aplicando-a, sobretudo, ao Movimento de Cursilhos, permitam-me repetir uma comparação feita por Francisco ao afirmar que a Igreja deve sair para a missão: Diante desta alternativa, quero dizer-lhes fracamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada do que uma Igreja doente. A doença típica da Igreja fechada é a auto-referência; contemplar-se a si mesma, estar curvada sobre si mesma como aquela mulher do Evangelho”.

Que a intercessão de São João Batista e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo juntamente com a de Maria, possa fazer com que criemos uma mentalidade cada vez mais profética e missionaria, uma mentalidade de autênticos discípulos missionários de Jesus, são os votos mais fraternos de
                                                                                                     
Pe.José Gilberto BERALDO

Carta Pe. Beraldo mês demaio de 2013

Carta MCC Brasil – Maio 2013 (165ª.)

“Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos...
Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: A paz esteja convosco”...
Jesus disse de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio”.
Então, soprou sobre eles e falou: “Recebei o Espírito Santo.
A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 19ª. 21-22).

Muito amados irmãos e irmãs enviados para a missão de anunciar a Boa Notícia do Reino,

Encerrado o tempo litúrgico da Páscoa, isto é, da Ressurreição de Jesus, continua o tempo de celebração da Vida -  da alegria, da vida nova, da esperança da libertação da culpa, da mancha da desobediência – que passa pela Ascensão do Senhor à direita do Pai e se confirma pela irrupção do Espírito Santo sobre os Apóstolos. É a grande celebração do próximo dia 19 de maio, que marca o início do “tempo de Igreja”, prolongado pelo envio da comunidade à missão, ao anúncio da Boa Notícia (cf. Catecismo da Igreja Católica – CIC- n.696,731,1287,2623).    

1. O Espírito Santo habita em cada um dos seguidores de Jesus. Desde o momento do nosso batismo, confirmado pelo sacramento da Crisma, tornamo-nos templos vivos do Espírito Santo, morada da Santíssima Trindade. É da boca de Jesus que saíram estas confortadoras palavras: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos dele a nossa morada” (Jo 14, 23). E o mesmo Jesus garante: “Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26).  E São Paulo completa: “Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espirito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16). E acrescenta, ainda: “Acaso ignorais que vosso corpo é templo do Espírito Santo que mora em vós e que recebestetas Deus? Ignorais que não pertenceis a vós mesmos? (1Cor 6,19). Pois bem: a cada ano, na celebração de Pentecostes, somos convidados  a relembrar essa sublime dignidade da qual somos depositários e, ao mesmo tempo, rever se o templo que somos do Espírito Santo, se mantém limpo e habitável por Ele. Pois este mesmo templo é passível de destruição, conforme a advertência de São Paulo: “Se alguém destruir o tempo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” (1Cor 3,17). Diante dessa possibilidade, algum de nós poderá perguntar-se: “Mas como? Alguém terá a coragem de destruir o templo do Espírito Santo?  Respondo: poderá ser que o faça - não de uma vez ou de um golpe como essas escavadeiras gigantes que, num instante, botam tudo abaixo... mas aos poucos, pedra por pedra, parede por parede: uma pequena infidelidade aqui outra ali, uma manchinha imperceptivelmente repetida... O resultado é que, de repente, acaba o templo por tornar-se um casarão em ruinas, mal assombrado e inabitável!

2. O Espírito Santo vive na Igreja e a impele para a missão. Como nos deveríamos sentir privilegiados por viver num momento tão importante e decisivo para a Igreja Católica! Pois é neste tempo de desafios para a nossa fé que o Espírito nos envia um Pastor, digamos, sob medida, para guiar o rebanho do Senhor.  Sem ousar qualquer outro comentário e solicitando de cada um de vocês uma demorada e profunda reflexão, aplicando-a à realidade da diocese, paróquia ou comunidade onde você vive ou na do seu Movimento, deixo-lhes, meus caros leitores e leitoras, a palavra do Papa Francisco, no passado dia 16 de abril, durante a missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta,  onde agora ele mora.  Na homilia, ao comentar a primeira leitura do dia, celebrando o martírio de Santo Estevão que, antes de ser apedrejado, anunciou a Ressurreição de Cristo, o Papa advertiu para a resistência ao Espírito Santo e repetiu que mesmo em meio de nós, ainda existe essa resistência. E vejam como é clara essa advertência: Ao que parece, hoje o Espírito Santo nos incomoda, porque nos incentiva, empurra a Igreja para que vá adiante. E nós queremos que ele adormeça, queremos domesticá-lo, e isto não é bom porque Ele é Deus e é a força que nos consola, a força para prosseguirmos. Mas seguir avante dificulta... a comodidade é melhor!”. E, depois, prossegue:Hoje aparentemente estamos todos contentes com a presença do Espírito Santo, mas não é assim. Por exemplo, vamos pensar no Concílio: O Concílio foi uma linda obra do Espírito Santo. Pensamos em Papa João XXIII: um pároco bom, obediente ao Espírito Santo. Mas depois de 50 anos, fizemos tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio? Não. Comemoramos este aniversário, erguemos um monumento, mas desde que não incomode. Nós não queremos mudar, e o pior: alguns querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, significa querer domesticar o Espírito Santo; ser tolo, de coração lento”. Ressaltando que o mesmo acontece em nossas vidas, o Papa Francisco exortou: “Não oponhamos resistência ao Espírito. É Ele que nos liberta. Caminhemos na estrada da docilidade do Espírito Santo, no caminho da santidade da Igreja! Não colocar resistência ao Espírito Santo: é esta a graça que eu gostaria que todos nós pedíssemos ao Senhor, a docilidade ao Espírito Santo, a esse Espírito que vem até nós e nos faz seguir pela estrada da santidade”.

Permitam-me acrescentar, entre outras, mais algumas palavras orientadoras do Papa Francisco em carta dirigida aos Bispos participantes da 105ª. Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Argentina, mas que devem ser assumidas pela hierarquia de toda a Igreja e por todos os católicos: “Queridos irmãos:... expresso-lhes um desejo: gostaria que os trabalhos da Assembleia tenham como referência o Documento de Aparecida e “Navega mar adentro”[1]. Estão alí as orientações que necessitamos para este momento da história. Sobretudo, peço-lhes que tenham uma particular preocupação quanto ao crescimento na missão continental nos seus dois aspectos: missão programática e missão paradigmática. Que toda a pastoral seja em chave missionária. Uma Igreja que não sai (em missão) imediatamente, adoece na atmosfera viciada do fechamento sobre si mesma.  É verdade, também, que a uma Igreja que sai, pode acontecer o que acontece a qualquer pessoa: sofrer um acidente. Diante desta alternativa, quero dizer-lhes fracamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada do que uma Igreja doente. A doença típica da Igreja fechada é a auto-referência; contemplar-se a si mesma, estar curvada sobre si mesma como aquela mulher do Evangelho. É uma espécie da narcisismo que nos leva à “mundanidade” espiritual e ao clericalismo sofisticado e, assim, nos impede de experimentar “a doce e confortadora alegria de evangelizar”. A todos lhes desejo esta alegria que, tantas vezes vem unida à Cruz, mas que nos salva do ressentimento, da tristeza e do “solteirismo” clerical”.

Meus caros, deixo-os com uma pergunta-desafio: poderá, por acaso, haver maior e mais fascinante palavras de estímulo, sobretudo vendo de quem vem, não só para nossa reflexão, mas, sobretudo, para mudança de nossa mentalidade e nosso comportamento de seguidores de Jesus, bem como para a conversão pastoral de toda a Igreja? (cf. Documento Aparecida 365-372).

Ao deixar-lhes a todos meu carinhoso abraço fraterno desejo lembrar-lhes que no dia da primeira vinda do Espírito Santo “todos eles perseveram na oração com um, junto com algumas mulheres” e, “entre elas, Maria Mãe de Jesus” (At 1,14). Pois, então, que Maria continue em cada um de nós, no nosso meio e no meio de nossa comunidade – dirijo-me especialmente ao nosso Movimento de Cursilhos -  ajudando-nos a nos preservar como “templos do Espírito Santo” e, dessa forma, nos manifestarmos ao mundo como autênticos missionários!


Pe. José Gilberto BERALDO
E-mail: jberaldo79@gmail.com

Carta Pe. Beraldo mês de Abril de 2013

ARTA MCC BRASIL - ABR 2013 (164ª.)
“Acaso ignorais  que um pouco de fermento leveda a massa toda?
 Lançai fora o velho fermento, para que sejais uma massa nova,
 já que deveis ser sem fermento.
Pois o nosso Cordeiro pascal, Cristo, já está imolado.
Assim, celebremos a festa, não com fermento velho,
 nem com fermento de maldade ou de perversidade,
mas com os pães ázimos da pureza e da verdade” (1Cor 5,6b-8).

Meus amados irmãos e irmãs, “ressuscitados com Cristo”,  à espera de aparecer com Ele, revestidos de glória” (cf.Cl 3,1-4), estejam com vocês a paz e a alegria pascais:

Celebrada com intenso júbilo no último domingo de março, a Páscoa da Ressurreição do Senhor, eis que iniciamos, Povo de Deus da Nova Aliança, um tempo novo; um tempo de “pureza e de verdade”; um tempo de uma “massa nova”, enfim, um tempo de libertação : “Portanto, se alguém está em Cristo, é criatura nova. O que era antigo passou, agora todo é novo” (2Cor 5,17).
Páscoa, festa do povo da Antiga Aliança, eleito do Senhor: “começo dos meses, o primeiro mês do ano”; festa dos “pães sem fermento”; festa do “cordeiro sem mancha”; passagem do Exterminador ferindo os egípcios dominadores; transposição do Mar Vermelho a pé enxuto, passando da terra da escravidão para a terra onde “corria leite e mel” (cf. Ex 3,8; cap. 11-12). Essa foi a primeira Páscoa, prenúncio da Páscoa Nova, vivida por Cristo, imolado por amor e ressuscitado para a Vida. Definitivamente, este sim, é a nossa Páscoa, a nossa libertação, a nossa alegria e a nossa esperança. Libertação, alegria e esperança para cada um dos seguidores de Jesus e, divinamente providencial, para toda a Igreja, Povo da Nova Aliança com a eleição do Papa Francisco.

1. Páscoa – vida nova - para os seguidores do Ressuscitado. Já não se trata de limites da idade ou de tempo de vida ou de horizontes históricos de uma peregrinação terrena destinada a encerrar-se num dia qualquer. Trata-se de substituir o “fermento velho”, isto é, as motivações que determinam nossas atitudes e nossos comportamentos por outras nascidas e alimentadas pelos critérios e valores do Reino de Deus proclamados e testemunhados por Jesus e expressos no Evangelho. Na citada Carta aos Coríntios São Paulo alude ao “fermento de maldade ou de perversidade”. Cada um de nós, conscientes da nossa vocação de seguidores de Jesus, saberá discernir, à luz de Cristo Ressuscitado, onde estão nossas maldades e malicias!
Com certeza, meus caríssimos, celebrar a Páscoa é lançar fora a “mesmice”, a rotina, a instalação nos comodismos e partir para a vivência da autêntica VIDA NOVA, retomando a caminhada com Jesus e com os homens e mulheres que nos rodeiam e com quem convivemos, retomando com um  novo viço, uma nova determinação nossa vocação missionária, agora e outra vez, ressuscitados com Cristo para a alegria e a esperança de “um novo céu e uma nova terra”... pois, “Ele enxugará toda lágrima dos nossos olhos, onde a morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem, grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (cf. Ap 21,1.4).

2. Páscoa – vida nova - para toda a Igreja, Povo de Deus. Num momento de profunda ação de graças a Deus, permitam-me transcrever um pequeno trecho da Carta anterior – a de março  – quando propus breve reflexão sobre a, então, próxima eleição de um novo Pastor para a Igreja Católica: “...quero viver este momento singular na história eclesial como aquele momento “Kairós”, o momento oportuno para a ação do Espírito Santo: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,1-2). “Salvação” no seu sentido de intervenção do mesmo Espírito na vida da Igreja. Santa e providencial coincidência, pois este momento do ano de 2013 será o coroamento da caminhada quaresmal da Igreja-Povo de Deus com a celebração pascal da escolha de um novo Papa por elementos humanos e do envio ao seu povo de um novo Pastor pelo Pastor dos pastores, Jesus de Nazaré!”

E ai está o nosso novo Papa Francisco dando já suficientes sinais em sua pessoa, daquilo que deverá a ser a Igreja Católica sob o seu pastoreio: humilde, sensível, simples, despojada, dinâmica, missionária, solidária... Menos hierárquica e mais fraterna à imitação do Senhor Jesus; menos papa-móvel blindado e mais jipe aberto para descer do pedestal, para poder abraçar, acariciar, condoer-se, para  praticar o conselho de Paulo Apóstolo: “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. Mantende um bom entendimento uns com os outros; não sejais pretenciosos, mas acomodai-vos às coisas humildes. Não vos considereis sábios aos próprios olhos”  (Rm 13,15-16).  Será essa a verdadeira imagem da Igreja com que sonhamos? Mas, se o Papa Francisco, com seu testemunho, assim projeta a Igreja, não nos esqueçamos que ela depende, também, da mudança de nossa mentalidade – “pão ázimo de pureza e de verdade” -, de nossa comprometida participação e viva colaboração.   

Certamente, as palavras dirigidas pelo Papa Francisco aos jovens durante a celebração do Domingo de Ramos, também mostram  outro traço característico de sua personalidade e de sua maneira de ser: a alegria. Ao convocar os jovens para a Jornada Mundial da Juventude ( Julho de 2013, no Rio de Janeiro)  assim ele se expressou: “Abraçada com amor, a cruz de Cristo não leva à tristeza, mas à alegria”. Vós tendes uma parte importante na festa da fé!”  Vós nos  trazeis  a alegria da fé e nos dizeis que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre, mesmo aos 70, 80 anos!  Com Cristo, o coração nunca envelhece!”
Uma vez mais o Espírito Santo está gritando ao Povo de Deus: “Eu vos darei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria” (Jr 3,15). Traduzida na linguagem da fé, a eleição do Papa Francisco vem  nos ensinar, mais uma vez, que o Espírito de Deus, não estava na mercantilista Bolsa de Apostas de Londres – onde sequer aparecia o nome de um tal Cardeal Bergoglio! - e nem muito menos nas especulações ou nas férteis imaginações de “especialistas em Vaticano” e, sim, estava iluminando os responsáveis para dar à Igreja de hoje e de amanhã um Pastor que irá apascentá-la na simplicidade e na humildade de um novo Francisco!  Estejamos entre aqueles a quem o Mestre chamou de bem-aventurados ‘que creram sem ter visto’ (cf. Jo 20,29). Continuemos a aprofundar a “fé, fundamento daquilo que se espera e demonstração das coisas que não se veem” (cf. Hbreus 11,1). Pois mais do que nunca podemos ter a certeza de que “o pobre, porém, não ficará no eterno esquecimento; nem a esperança dos aflitos será frustrada para sempre” (Salmo 9,19).

Meus caríssimos leitores, irmãos e irmãs no Senhor Ressuscitado: comungando como nosso Pastor Francisco, vivamos intensamente esta nova Páscoa! Uma Páscoa de renovação, de verdadeira ”passagem” do antigo para o novo; uma Páscoa de um novo tempo de Igreja, Corpo de Cristo, dinâmica e missionaria!

Meu abraço fraterno e amigo,
                                                                                       
Pe. José Gilberto BERALDO

Não seja escravo de si mesmo

Não seja escravo de si mesmo

Figura1A grande libertação que podemos experimentar é a da escravidão que nós mesmos nos impomos. Somos escravos de nós mesmos e dos nossos pecados.
O nosso ego está sentado no trono do nosso coração e não quer sair daí por nada, nem para dar o lugar a Deus, que é o único que tem o direito de ocupá-lo. E esse tirano que está sentado neste trono é exigente, vaidoso, soberbo e manhoso; e nos faz sofrer.
Por que temos angústia e depressão? Por que temos medo? Porque temos receio de que o nosso “eu” seja atingido, contrariado, ameaçado, ferido, e de alguma maneira sofra. Então, ficamos protegendo-o o tempo todo, com medo de que seja atingido.
São precisos muitas vezes “fracassos e decepções” para que cada um de nós aprenda que o único caminho para ser feliz de verdade, que é a “morte de si mesmo”, a morte do amor próprio exagerado, a morte do nosso egoísmo e egocentrismo.
Não foi à toa que Jesus disse: “quem quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9,23). Quando eu não me importar demais com minha reputação, meu amor próprio, então, as calúnias, as fofocas e as críticas contra mim não me farão mais mal; e eu serei feliz apesar delas.
Quando eu não amar mais as riquezas, elas não me farão mais falta e eu não ficarei correndo e sofrendo por causa delas.
Quando eu aceitar não mais estar no centro do universo, não vou ficar mais triste se me marginalizarem ou me colocarem em segundo lugar. E serei feliz assim mesmo. Se eu não mais desejar o primeiro lugar, não mais sofrerei quando o perder.
Quando eu aprender a viver somente com o necessário, não mais sofrerei porque não possuo aquilo que é supérfluo. Muitos dos nossos sofrimentos provém do nosso egoísmo, que escraviza a nós mesmos. O egoísmo engendra a morte dentro de nós, a caridade gera a vida. É claro que é necessário proteger a nós mesmos contra os perigos, as doenças, as dificuldades da vida, etc. Nada contra a sermos previdentes. O que não podemos é ficar “paparicando” a nós mesmos como se fossemos um reizinho que não pode sofrer, ou para quem nada pode dar errado nunca. Todo mundo sofre, todos têm problemas, todos perdem entes queridos, então, por que eu não posso passar por isso? Não sou melhor do que os outros.
É o pecado original que expulsou Deus do trono do coração do homem e aí fez sentar o nosso ego. Este passou a comandar a nossa vida ao invés de Deus, e tudo começou a complicar para o homem e para a humanidade.
A ordem de Jesus de “renunciar a si mesmo” pode parecer a princípio um contrassenso, mas é exatamente o que precisamos, é uma grande sabedoria. “Renunciar a si mesmo”, não quer dizer se desvalorizar ou jogar a vida fora, ao contrário, é deixar Deus ser o guia da sua vida, e não você. É desocupar o trono de onde partem as ordens para a sua vida, e deixar Deus sentar na cadeira de comando. Ora, afinal, quem é mais capaz, você ou Deus, para dirigir a sua vida? Se é Ele, por que então resistir? Quando Jesus diz: “… e siga-me”, Ele está mandando que você obedeça as suas leis, a Sua vontade, a doutrina que a Igreja ensina, e não, viver segundo a “sua” moral e a “sua” lei. Não queira você fazer as leis; obedeça as que Deus fez.
Todo o trabalho de Deus sobre nós, que chamamos de conversão, consiste simplesmente em dar o lugar a Deus no trono do nosso coração. E isto é difícil porque o ego apegou-se a este lugar, pelo pecado, com raízes profundas.
As ações de Deus sobre nós são no sentido de reverter o veneno do pecado original, para convencer o ego a deixar o lugar de Deus e passar a servi-lo, e não de ser servido.
A maneira mais fácil é que nós mesmos façamos esta “cirurgia” com a graça de Deus e a ação do Espírito Santo. Precisamos querer e aceitar deixar o trono que é de Deus para que Ele nos conduza com sabedoria e nos dirija com o seu poder onipotente.
“Senhor eu quero agora mesmo deixar este lugar que eu usurpei e que é Seu. Peço perdão Senhor por tanto tempo ter agido assim e não tê-lo deixado guiar a minha vida.
Mas agora, com todo o meu querer, livremente, amorosamente, Senhor, com gosto, eu dou ao Senhor o trono do meu coração, e quero ficar aos Seus pés, como um servo fiel, atento para ouvir as Suas menores ordens, e executá-las com grande amor. Divino Espírito Santo, sela em meu coração esta decisão para que nunca mais eu volte atrás nela. Amém”.
Quando você viaja de avião, e acontece uma turbulência, você não corre para a cabina do piloto para ajudá-lo ou dar-lhe ordens, porque você não entende nada de navegação aérea e de pilotagem. Apenas você fica quieto na cadeira, com o cinto de segurança atado, até que a turbulência passe, deixando o avião nas mãos do Comandante. Na sua vida deve ser assim também.
Deixe o “Piloto” comandar o voo da sua vida. Ele conhece o “avião”, ele sabe de pilotagem e a turbulência está em Suas mãos. Quando Deus permite que a gente passe por alguma turbulência, Ele está “fazendo uma obra em nós”. Esta obra é para a retirada de nós mesmos do centro de nossa vida; por isso não se assuste. Entregue o comando da vida ao Piloto.
A melhor de todas as penitências que podemos fazer nesta vida é aceitar os sofrimentos que Deus permite que cheguem a nós. É claro que isto é difícil. Os sofrimentos de cada dia de sua vida, todos eles, Deus usa para tirar o seu “eu” do centro da sua vida, para que Ele possa reinar em você. Este é um longo, lento e amoroso trabalho que Deus faz em nós.
Ele sabe o que está fazendo em você, mesmo que lhe pareça tudo muito estranho ou errado. Que sentido pode ter eu perder o emprego, ou tomar um grande prejuízo financeiro, ou perder a esposa?
Eu não sei responder a você, e ninguém sabe, mas Deus sabe que atrás disso há um desígnio de conversão para você. Ter fé é exatamente acreditar no que São Paulo disse: “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rom 8,28). A lógica de tudo isto, é então, dar glória a Deus no meio deste fogo que me queima mas me purifica. E quando você é capaz de louvar a Deus nesta hora, então, está deixando o trono do seu ser para que Deus sente aí e comande a sua vida. “Aceita tudo o que te acontecer” (Eclo 2,4) diz o livro do Eclesiástico.Quando você aceita que Deus comande a sua vida então, você aceita tudo o que lhe acontece hoje ou possa acontecer amanhã. Tudo está nas Suas mãos. Se você está aflito, angustiado, em pânico, é porque você está preocupado com você mesmo e não está aceitando o que Deus está fazendo com você agora. É duro dizer isto, mas é a realidade; ficamos como que brigando com Deus.
Diga: “Senhor, seja feita a Sua vossa vontade assim na terra como no céu!” quantas vezes for preciso, até que você aprenda a aceitar a vontade de Deus pelo que estiver passando. O medo surge exatamente porque você se sente impotente diante do problema que está a sua frente; humanamente você se vê num beco sem saída e fica em pânico.
Só tem uma saída, aceite tudo o que possa te acontecer, e que você não pode mudar, agora ou depois, e deixe os resultados nas mãos de Deus”.
Prof. Felipe Aquino