sábado, 8 de junho de 2013

Carta Pe. Beraldo mês demaio de 2013

Carta MCC Brasil – Maio 2013 (165ª.)

“Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos...
Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: A paz esteja convosco”...
Jesus disse de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio”.
Então, soprou sobre eles e falou: “Recebei o Espírito Santo.
A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 19ª. 21-22).

Muito amados irmãos e irmãs enviados para a missão de anunciar a Boa Notícia do Reino,

Encerrado o tempo litúrgico da Páscoa, isto é, da Ressurreição de Jesus, continua o tempo de celebração da Vida -  da alegria, da vida nova, da esperança da libertação da culpa, da mancha da desobediência – que passa pela Ascensão do Senhor à direita do Pai e se confirma pela irrupção do Espírito Santo sobre os Apóstolos. É a grande celebração do próximo dia 19 de maio, que marca o início do “tempo de Igreja”, prolongado pelo envio da comunidade à missão, ao anúncio da Boa Notícia (cf. Catecismo da Igreja Católica – CIC- n.696,731,1287,2623).    

1. O Espírito Santo habita em cada um dos seguidores de Jesus. Desde o momento do nosso batismo, confirmado pelo sacramento da Crisma, tornamo-nos templos vivos do Espírito Santo, morada da Santíssima Trindade. É da boca de Jesus que saíram estas confortadoras palavras: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos dele a nossa morada” (Jo 14, 23). E o mesmo Jesus garante: “Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26).  E São Paulo completa: “Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espirito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16). E acrescenta, ainda: “Acaso ignorais que vosso corpo é templo do Espírito Santo que mora em vós e que recebestetas Deus? Ignorais que não pertenceis a vós mesmos? (1Cor 6,19). Pois bem: a cada ano, na celebração de Pentecostes, somos convidados  a relembrar essa sublime dignidade da qual somos depositários e, ao mesmo tempo, rever se o templo que somos do Espírito Santo, se mantém limpo e habitável por Ele. Pois este mesmo templo é passível de destruição, conforme a advertência de São Paulo: “Se alguém destruir o tempo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” (1Cor 3,17). Diante dessa possibilidade, algum de nós poderá perguntar-se: “Mas como? Alguém terá a coragem de destruir o templo do Espírito Santo?  Respondo: poderá ser que o faça - não de uma vez ou de um golpe como essas escavadeiras gigantes que, num instante, botam tudo abaixo... mas aos poucos, pedra por pedra, parede por parede: uma pequena infidelidade aqui outra ali, uma manchinha imperceptivelmente repetida... O resultado é que, de repente, acaba o templo por tornar-se um casarão em ruinas, mal assombrado e inabitável!

2. O Espírito Santo vive na Igreja e a impele para a missão. Como nos deveríamos sentir privilegiados por viver num momento tão importante e decisivo para a Igreja Católica! Pois é neste tempo de desafios para a nossa fé que o Espírito nos envia um Pastor, digamos, sob medida, para guiar o rebanho do Senhor.  Sem ousar qualquer outro comentário e solicitando de cada um de vocês uma demorada e profunda reflexão, aplicando-a à realidade da diocese, paróquia ou comunidade onde você vive ou na do seu Movimento, deixo-lhes, meus caros leitores e leitoras, a palavra do Papa Francisco, no passado dia 16 de abril, durante a missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta,  onde agora ele mora.  Na homilia, ao comentar a primeira leitura do dia, celebrando o martírio de Santo Estevão que, antes de ser apedrejado, anunciou a Ressurreição de Cristo, o Papa advertiu para a resistência ao Espírito Santo e repetiu que mesmo em meio de nós, ainda existe essa resistência. E vejam como é clara essa advertência: Ao que parece, hoje o Espírito Santo nos incomoda, porque nos incentiva, empurra a Igreja para que vá adiante. E nós queremos que ele adormeça, queremos domesticá-lo, e isto não é bom porque Ele é Deus e é a força que nos consola, a força para prosseguirmos. Mas seguir avante dificulta... a comodidade é melhor!”. E, depois, prossegue:Hoje aparentemente estamos todos contentes com a presença do Espírito Santo, mas não é assim. Por exemplo, vamos pensar no Concílio: O Concílio foi uma linda obra do Espírito Santo. Pensamos em Papa João XXIII: um pároco bom, obediente ao Espírito Santo. Mas depois de 50 anos, fizemos tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio? Não. Comemoramos este aniversário, erguemos um monumento, mas desde que não incomode. Nós não queremos mudar, e o pior: alguns querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, significa querer domesticar o Espírito Santo; ser tolo, de coração lento”. Ressaltando que o mesmo acontece em nossas vidas, o Papa Francisco exortou: “Não oponhamos resistência ao Espírito. É Ele que nos liberta. Caminhemos na estrada da docilidade do Espírito Santo, no caminho da santidade da Igreja! Não colocar resistência ao Espírito Santo: é esta a graça que eu gostaria que todos nós pedíssemos ao Senhor, a docilidade ao Espírito Santo, a esse Espírito que vem até nós e nos faz seguir pela estrada da santidade”.

Permitam-me acrescentar, entre outras, mais algumas palavras orientadoras do Papa Francisco em carta dirigida aos Bispos participantes da 105ª. Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Argentina, mas que devem ser assumidas pela hierarquia de toda a Igreja e por todos os católicos: “Queridos irmãos:... expresso-lhes um desejo: gostaria que os trabalhos da Assembleia tenham como referência o Documento de Aparecida e “Navega mar adentro”[1]. Estão alí as orientações que necessitamos para este momento da história. Sobretudo, peço-lhes que tenham uma particular preocupação quanto ao crescimento na missão continental nos seus dois aspectos: missão programática e missão paradigmática. Que toda a pastoral seja em chave missionária. Uma Igreja que não sai (em missão) imediatamente, adoece na atmosfera viciada do fechamento sobre si mesma.  É verdade, também, que a uma Igreja que sai, pode acontecer o que acontece a qualquer pessoa: sofrer um acidente. Diante desta alternativa, quero dizer-lhes fracamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada do que uma Igreja doente. A doença típica da Igreja fechada é a auto-referência; contemplar-se a si mesma, estar curvada sobre si mesma como aquela mulher do Evangelho. É uma espécie da narcisismo que nos leva à “mundanidade” espiritual e ao clericalismo sofisticado e, assim, nos impede de experimentar “a doce e confortadora alegria de evangelizar”. A todos lhes desejo esta alegria que, tantas vezes vem unida à Cruz, mas que nos salva do ressentimento, da tristeza e do “solteirismo” clerical”.

Meus caros, deixo-os com uma pergunta-desafio: poderá, por acaso, haver maior e mais fascinante palavras de estímulo, sobretudo vendo de quem vem, não só para nossa reflexão, mas, sobretudo, para mudança de nossa mentalidade e nosso comportamento de seguidores de Jesus, bem como para a conversão pastoral de toda a Igreja? (cf. Documento Aparecida 365-372).

Ao deixar-lhes a todos meu carinhoso abraço fraterno desejo lembrar-lhes que no dia da primeira vinda do Espírito Santo “todos eles perseveram na oração com um, junto com algumas mulheres” e, “entre elas, Maria Mãe de Jesus” (At 1,14). Pois, então, que Maria continue em cada um de nós, no nosso meio e no meio de nossa comunidade – dirijo-me especialmente ao nosso Movimento de Cursilhos -  ajudando-nos a nos preservar como “templos do Espírito Santo” e, dessa forma, nos manifestarmos ao mundo como autênticos missionários!


Pe. José Gilberto BERALDO
E-mail: jberaldo79@gmail.com

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