“Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos...
Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: A paz esteja convosco”...
Jesus disse de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio”.
Então, soprou sobre eles e falou: “Recebei o Espírito Santo.
A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 19ª. 21-22).
Muito amados irmãos e irmãs enviados para a missão de anunciar a Boa Notícia do Reino,
Encerrado o tempo litúrgico da Páscoa, isto é, da Ressurreição de Jesus, continua o tempo de celebração da Vida - da
alegria, da vida nova, da esperança da libertação da culpa, da mancha
da desobediência – que passa pela Ascensão do Senhor à direita do Pai e
se confirma pela irrupção do Espírito Santo sobre os Apóstolos. É a
grande celebração do próximo dia 19 de maio, que marca o início do
“tempo de Igreja”, prolongado pelo envio da comunidade à missão, ao
anúncio da Boa Notícia (cf. Catecismo da Igreja Católica – CIC-
n.696,731,1287,2623).
1. O Espírito Santo habita em cada um dos seguidores de Jesus.
Desde o momento do nosso batismo, confirmado pelo sacramento da Crisma,
tornamo-nos templos vivos do Espírito Santo, morada da Santíssima
Trindade. É da boca de Jesus que saíram estas confortadoras palavras: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos dele a nossa morada” (Jo 14, 23). E o mesmo Jesus garante: “Mas
o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos
ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26). E São Paulo completa: “Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espirito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16). E acrescenta, ainda: “Acaso
ignorais que vosso corpo é templo do Espírito Santo que mora em vós e
que recebestetas Deus? Ignorais que não pertenceis a vós mesmos? (1Cor 6,19). Pois bem: a cada ano, na celebração de Pentecostes, somos convidados a
relembrar essa sublime dignidade da qual somos depositários e, ao mesmo
tempo, rever se o templo que somos do Espírito Santo, se mantém limpo e
habitável por Ele. Pois este mesmo templo é passível de destruição,
conforme a advertência de São Paulo: “Se alguém destruir o tempo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós”
(1Cor 3,17). Diante dessa possibilidade, algum de nós poderá
perguntar-se: “Mas como? Alguém terá a coragem de destruir o templo do
Espírito Santo? Respondo:
poderá ser que o faça - não de uma vez ou de um golpe como essas
escavadeiras gigantes que, num instante, botam tudo abaixo... mas aos
poucos, pedra por pedra, parede por parede: uma pequena infidelidade
aqui outra ali, uma manchinha imperceptivelmente repetida... O resultado
é que, de repente, acaba o templo por tornar-se um casarão em ruinas,
mal assombrado e inabitável!
2. O Espírito Santo vive na Igreja e a impele para a missão.
Como nos deveríamos sentir privilegiados por viver num momento tão
importante e decisivo para a Igreja Católica! Pois é neste tempo de
desafios para a nossa fé que o Espírito nos envia um Pastor, digamos,
sob medida, para guiar o rebanho do Senhor. Sem
ousar qualquer outro comentário e solicitando de cada um de vocês uma
demorada e profunda reflexão, aplicando-a à realidade da diocese,
paróquia ou comunidade onde você vive ou na do seu Movimento,
deixo-lhes, meus caros leitores e leitoras, a palavra do Papa Francisco,
no passado dia 16 de abril, durante a missa celebrada na Capela da Casa
Santa Marta, onde agora ele mora. Na
homilia, ao comentar a primeira leitura do dia, celebrando o martírio
de Santo Estevão que, antes de ser apedrejado, anunciou a Ressurreição
de Cristo, o Papa advertiu para a resistência ao Espírito Santo e
repetiu que mesmo em meio de nós, ainda existe essa resistência. E vejam
como é clara essa advertência: “Ao
que parece, hoje o Espírito Santo nos incomoda, porque nos incentiva,
empurra a Igreja para que vá adiante. E nós queremos que ele adormeça,
queremos domesticá-lo, e isto não é bom porque Ele é Deus e é a força
que nos consola, a força para prosseguirmos. Mas seguir avante
dificulta... a comodidade é melhor!”. E, depois, prossegue: “Hoje aparentemente estamos todos contentes com a presença do Espírito Santo, mas não é assim. Por exemplo, vamos pensar no Concílio: O Concílio foi
uma linda obra do Espírito Santo. Pensamos em Papa João XXIII: um
pároco bom, obediente ao Espírito Santo. Mas depois de 50 anos, fizemos
tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio? Não. Comemoramos este
aniversário, erguemos um monumento, mas desde que não incomode. Nós não
queremos mudar, e o pior: alguns querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, significa querer domesticar o Espírito Santo; ser tolo, de coração lento”. Ressaltando que o mesmo acontece em nossas vidas, o Papa Francisco exortou: “Não
oponhamos resistência ao Espírito. É Ele que nos liberta. Caminhemos na
estrada da docilidade do Espírito Santo, no caminho da santidade da
Igreja! Não colocar
resistência ao Espírito Santo: é esta a graça que eu gostaria que todos
nós pedíssemos ao Senhor, a docilidade ao Espírito Santo, a esse
Espírito que vem até nós e nos faz seguir pela estrada da santidade”.
Permitam-me
acrescentar, entre outras, mais algumas palavras orientadoras do Papa
Francisco em carta dirigida aos Bispos participantes da 105ª. Assembleia
Plenária da Conferência Episcopal Argentina, mas que devem ser
assumidas pela hierarquia de toda a Igreja e por todos os católicos: “Queridos
irmãos:... expresso-lhes um desejo: gostaria que os trabalhos da
Assembleia tenham como referência o Documento de Aparecida e “Navega mar
adentro”[1].
Estão alí as orientações que necessitamos para este momento da
história. Sobretudo, peço-lhes que tenham uma particular preocupação
quanto ao crescimento na missão continental nos seus dois aspectos:
missão programática e missão paradigmática. Que toda a pastoral seja em chave missionária. Uma Igreja que não sai (em missão) imediatamente, adoece na atmosfera viciada do fechamento sobre si mesma. É verdade, também, que a uma Igreja que sai, pode acontecer o que acontece a qualquer pessoa: sofrer um acidente. Diante desta alternativa, quero dizer-lhes fracamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada do que uma Igreja doente.
A doença típica da Igreja fechada é a auto-referência; contemplar-se a
si mesma, estar curvada sobre si mesma como aquela mulher do Evangelho. É
uma espécie da narcisismo que nos leva à “mundanidade” espiritual e ao
clericalismo sofisticado e, assim, nos impede de experimentar “a doce e
confortadora alegria de evangelizar”. A todos lhes desejo esta alegria
que, tantas vezes vem unida à Cruz, mas que nos salva do ressentimento, da tristeza e do “solteirismo” clerical”.
Meus
caros, deixo-os com uma pergunta-desafio: poderá, por acaso, haver
maior e mais fascinante palavras de estímulo, sobretudo vendo de quem
vem, não só para nossa reflexão, mas, sobretudo, para mudança de nossa
mentalidade e nosso comportamento de seguidores de Jesus, bem como para a
conversão pastoral de toda a Igreja? (cf. Documento Aparecida 365-372).
Ao deixar-lhes a todos meu carinhoso abraço fraterno desejo lembrar-lhes que no dia da primeira vinda do Espírito Santo “todos eles perseveram na oração com um, junto com algumas mulheres”
e, “entre elas, Maria Mãe de Jesus” (At 1,14). Pois, então, que Maria
continue em cada um de nós, no nosso meio e no meio de nossa comunidade –
dirijo-me especialmente ao nosso Movimento de Cursilhos - ajudando-nos
a nos preservar como “templos do Espírito Santo” e, dessa forma, nos
manifestarmos ao mundo como autênticos missionários!
Pe. José Gilberto BERALDO
E-mail: jberaldo79@gmail.com
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