Carta MCC Brasil – Julho 2013 (167ª.)
“E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom...” (Gn 1, 31).
“No sétimo dia, Deus concluiu toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que fizera.
Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nesse dia Deus repousou de toda a obra da criação.
Essa é a história da criação do céu e da terra” (Gn 2, 2-4).
A
proposta desta nossa Carta mensal é dupla: primeiramente refletir sobre
o mês de descanso, mês de férias, particularmente das férias escolares,
aqui no Brasil, no meio do ano (julho) e, em seguida – ainda que
suficientemente conhecida porque longamente preparada –, chamar a
atenção dos caros leitores e leitoras sobre alguns aspectos da presença
do Papa Francisco que estará entre nós por ocasião da Jornada Mundial da
Juventude, no Rio de Janeiro, de 22 a 28 deste mesmo mês.
1. “E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom”.
Infelizmente
não são todos os cidadãos brasileiros que poderão usufruir dessa
merecida pausa para descanso de meio de ano. Talvez, até a maioria do
povo não poderá fazê-lo. Possivelmente, sim, uma boa parte dos
estudantes, de profissionais autônomos, etc.. Com certeza, como é
costume, planejam-se viagens para perto ou longe, visitas, jogos e uma
vasta gama de diversões. O que, efetivamente, se deseja ressaltar é a
questão do repouso, do descanso, não como num privilégio que parece ser,
mas como um direito de toda pessoa que, durante todo o ano, se entrega
ao serviço do próximo, da sociedade, do bem comum.
Como
cristãos imbuídos da Palavra de Deus e dela nos alimentando, também
durante o período de descanso, continuamos a nutrir-nos desse
insubstituível alimento: Palavra de Deus e Eucaristia que se constituem a
fonte primordial onde vamos buscar recursos para renovar forças e
energias para nosso próximo período de atividades. Essa é razão
motivadora da citação bíblica acima e o pano de fundo para estas nossas
reflexões: “no sétimo dia repousou de toda obra que tinha feito”. Algumas sugestões para esse período de descanso:
v Descanso físico, ou seja, do corpo.
É suficientemente sabido que o estado físico é altamente condicionante
das reações psíquicas e, sobretudo, emocionais do ser humano,
especialmente nestes nossos tempos de tanta agitação, de tantos ruídos.
Tornam-se, então, urgentemente necessários os cuidados adequados com a
saúde, repondo energias, recuperando as forças. Anseios de maior
produção, cobiça por melhores salários ou pela multiplicação da renda
financeira, consumismo exagerado, engano ao colocar o ideal em bens
absolutamente transitórios e, pior, supérfluos – tudo isso, entretanto,
acaba por substituir o descanso, com consequências danosas ao corpo e ao
espírito.
v Descanso da mente que inclui o descanso psíquico.
Tais excessos podem levar a uma prejudicial sobrecarga da mente e das
condições psíquicas da pessoa. Os tempos atuais, nossa cultura, nossa
sociedade criam condições ideais para um extremo cansaço que pode levar a
pessoa até a um desequilíbrio mental. Daí a necessidade de uma pausa
relaxante para recuperar as condições normais de sobrevivência. Ainda
que mais ou menos distante no tempo, tudo isso pode muito bem, mutatis mutandis, aplicar-se aos nossos tempos e às nossas circunstâncias:
“A filósofa francesa Simone Weil experimentou na carne as agruras do
trabalho operário em fábricas da primeira metade do século XX. Ali,
sentiu que, à medida que passava os dias em frente das máquinas, os
pensamentos iam fugindo e escapando de sua mente. A cadência das
máquinas e o ritmo da produção eram muito rápidos. Simone havia sido
sempre lenta para os trabalhos manuais e não estava habituada a agir sem
pensar. Ela fazia a triste descoberta de que a sociedade moderna se
edifica sobre trabalhos para os quais o ser humano deve obrigar-se a não
pensar. E constatou que, se não houvesse o repouso semanal que fazia
com que ideias voltassem a circular em sua cabeça, ela estaria logo
convertida em uma besta de carga”.[1]
v Descanso do coração.
Por um lado, o mais simbólico e clássico repouso do amor, da ternura,
do carinho, da generosidade, do perdão e de tudo de bom que existe na
pessoa. Por outro, o coração pode ser esconderijo tétrico e amargo do
ódio, da violência, da vingança e sede de todos os maus instintos que
afloram, consciente ou inconscientemente – não importando dia, hora ou
momento – em muitos momentos da vida de relação entre os seres humanos.
Experimenta, então, sobretudo o seguidor dos passos de Jesus, a
necessidade de acalmar o coração. Um descanso físico e psíquico será
poderoso e eficaz auxílio para isso. De maneira especial, referindo-nos
ainda ao descanso do Pai Celeste, vale lembrar Santo Agostinho: “Fizestes-nos para Ti, Senhor, e inquieto anda o nosso coração, enquanto não repousar em Ti”.
1. A presença do Bispo de Roma, Francisco, no Brasil.
Essa presença está vinculada à grande celebração da Jornada Mundial da
Juventude que, como disse, não me parece oportuno comentar aqui por ser
já sobejamente conhecida, sobretudo, de todos os católicos brasileiros.
Desejo, sim, aproveitando a oportunidade, deixar algumas poucas linhas à
guisa de comentário, sobre a figura de um Papa. Agora, precisamente, de
Francisco que, desde sua primeira aparição na sacada da Basílica de São
Pedro, apresentou-se não como “papa”, mas como “bispo de Roma”, ou
seja, “o primeiro entre iguais”. Isto é, o primeiro entre todos os
bispos da Igreja. Dizem teólogos e historiadores de peso que o título de
“Papa” ficou definitivamente reservado ao bispo de Roma somente a
partir do século VII. Mas, não importando o título, o Pastor que nos foi
enviado pelo Espírito Santo, Francisco, está nos mostrando, através de
seus gestos e palavras, que ele, como Jesus, veio para “servir e não para ser servido” (Mt
20,28). É com essa postura que ele estará entre nós. Como tem feito
diariamente, ele virá para “lavar os pés” da juventude; para beijar as
crianças e os descapacitados; para indicar o Caminho, para ensinar a
Verdade, para incentivar a Vida. Em síntese: para levar todos os jovens
do mundo inteiro ao encontro com o próprio Jesus.
2. “E agora?” –
Como que lembrando a interrogação deixada no ar em Palma de Maiorca,
depois da grande peregrinação de 80.000 jovens a Santiago de Compostela e
que deu origem ao Movimento de Cursilhos, ressoará aos ouvidos dos
milhares e milhares de jovens que participarão da Jornada Mundial da
Juventude, assim como de toda a Igreja e do mundo, a pergunta simples e
profunda: “e agora?”. Agora, depois desses dias, longa e
conscientemente preparados e, sem dúvida, intensamente vividos; agora,
depois da última emocionante celebração da Palavra e da Eucaristia
presidida pelo nosso Pastor primeiro; agora, depois da viagem de volta
aos países de origem; agora, depois do regresso de Francisco à sua
Diocese de Roma onde continuará sua missão de ser “o primeiro entre iguais”;
agora, pergunto, o que terá ficado no coração e na vida desses jovens?
Jovens que estão vivendo já numa nova cultura, construindo uma nova
sociedade, uma nova ideologia, enfim, um novo tempo? Estarão levando
Jesus e sua mensagem para suas realidades: famílias, ambientes, redes
sociais, universidades, divertimentos? “E agora?”. Que
critérios e valores estarão levando para suas jovens vidas? Valores
ressaltados numa logística perfeita, na organização e mobilização de
dois milhões de jovens... ou critérios e valores do Evangelho com os
quais permearão um tempo novo, como o sal que realçará os sabores
eucarísticos, como o fermento que levedará a massa com a Palavra, como a
Luz que haverá de iluminar os novos horizontes de uma humanidade nova?
Finalizo
com o mais sincero desejo de um bom descanso (para os que tiverem esse
privilégio!) e de muitas bênçãos do Pai Celestial que, depois ter visto
que “tudo quanto havia feito, era muito bom... repousou de toda a obra da criação”.
Abraço fraterno e carinhoso do irmão e amigo no Senhor Jesus.
Pe.José Gilberto BERALDO
Equipe Sacerdotal
Grupo Executivo Nacional MCC do Brasil
E-mail: jberaldo79@gmail.com
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